A data é emblemática, o que antes era comemoração passou por uma ressignificação. Hoje debatemos o dia após a abolição, a trajetória de negros e negras livres no Brasil e a construção de um patrimônio histórico que preserva a memória dos descendentes de africanos escravizados.
A abolição gerou um novo processo de migração interna provocado pelo deslocamento da população negra livre que passa a percorrer as estradas do interior do Brasil procurando sobrevivência. A necessidade de moradia e alimentação deu origem a novos tipos de assentamentos e organizações sociais de ajuda mútua, multiplicam-se nesse momento as comunidades quilombolas, as irmandades e os Clubes Sociais Negros.
As comunidades quilombolas surgem ainda no período colonial e no final do século XIX, antes mesmo da abolição se (re)significaram diante da realidade que se apresentava. Famílias Negras afastando-se do cativeiro nas fazendas e muitas vezes se mantendo ainda no meio rural acabam por formar pequenos redutos em terras cedidas por proprietários rurais e ali fundam comunidades negras rurais que passam a servir de mão de obra para as atividades agropastoris.
Outro espaço consolidado ainda no final do século XIX, são os Clubes Sociais Negros. Esses Clubes em meio urbano, foram criados como uma forma de associativismo entre as famílias negras que procuravam nos centro urbanos uma oportunidade diante da diversidade que empregos que se abria com a estratificação social. Os Clubes eram espaços de socialização, ajuda mútua e preservação de uma identidade africana. Em suas atas e documento está registrada a história de milhares de famílias negras que revelam o cotidiano do Pós-abolição.
Neste contexto, surge também uma arqueologia da escravidão, que é uma linha de pesquisa da Arqueologia Histórica dedicada ao estudo de espaços de habitação e dos vestígios materiais dos africanos e afrodescendentes que viveram do continente americano sob o regime escravista. Essa arqueologia se enquadra em uma perspectiva Pós-colonial de conhecimento oportunizando a apresentação de novas fontes para o conhecimento história para além da perspectiva europeia e linear.
Esses espaços com o passar do tempo configuram-se como lugares de memória onde o Patrimônio Histórico se consolida como um símbolo de identidade ancestral frente aos processos de manutenção e imposição da cultura europeia hegemônica. Nesses espaços emergem narrativas históricas contra hegemônicas que exigem espaço de protagonismo de negros e negras na construção igualitária da sociedade brasileira.
Nesse 13 de maio faz-se necessário reconhecer a História e o Patrimônio Cultural construído por Africanos e Afrodescendentes no Brasil, desde as senzalas, quilombos, terreiros, irmandades e Clubes Sociais Negros como espaços culturais repletos de memórias, saberes e de uma identidade coletiva que faz parte de todos nós como brasileiros.